La Mudanza

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Já experimentou a transição de domicílio? Quiçá alguns nunca tenham se defrontado com esse infortúnio, ao passo que outros, munidos de grande resiliência, poderiam alardear êxito na empresa. Por outro viés, há aqueles que ladeiam essa vivência, imergindo em melancolia tão profunda que se aturdem e perplexam ao meramente rememorar.

Nesta composição, exploraremos "a mudança", não obliquamente de habitação, mas aprofundando um tema algo taciturno: a transmutação na vida, no comportamento e nos vínculos. O que instigou a gênese deste texto? Tal como em quaisquer de minhas prosas, a simples observação me acendeu a chama para tangenciar essas eventualidades. Concedo que vislumbrar inspiração não foi penoso, posto que as alterações comportamentais podem ser abruptas e súbitas. No cenário que anelo abordar, decifrar os modos e as afeições que nos plasmam no presente e futuro será meu propósito.

Ao escrutinar alguém com acuidade, constatei um desacordo latente. O panorama não mais se assemelhava ao pretérito; algo se volatizara, e esse vácuo não se preenchia com peças de cartão singelamente recortadas à medida do vazio cavado pela ausência. Era como se se dissolvesse ante os olhos, revelando novidade ímpar, quase como o reptar de pele em um réptil. Evidentemente intrigante é testemunhar de perto a magnitude das transmutações suscetíveis à mente humana.

Não obstante, como em cada mutação, algo se suprime. Oxalá somente despojos e atitudes deletérias fossem descartados, mas o receio perdura de que a crueldade de uma mente juvenil mutante seja apta a olvidar elementos de monta e relevância. Essas peças se esvaem ao vento, como se jamais houvessem sido congraçadas. No meu caso, excluído estou desse xadrez, mera fração do todo.

Por conseguinte, em minha esfera, não sou aquele esquecido. Em verdade, para tal desditosa condição, urge ter sido primeiramente lembrado. Destarte, não em mim se focaliza, mas nas peças, ou quiçá, na peça relegada. Grandes mudanças trazem consigo outras... tal paradoxo poderá ser, por outra órbita, menos paradoxal.

Não obstante, divagações não almejo, desiderato em mira! O desígnio que perfilo é que, quando indivíduos reconfiguram seu comportamento, por influxo externo ou acaso, amiúde abandonam os demais à própria inexpressividade. Findam por esquecer amigos outrora ubíquos, sorrisos e júbilos compartilhados. O que resta agora são reminiscências daquilo que outrora constituiu brincadeira infindável de infantes.

Ações alheias cunham indivíduos, para o bem ou, desafortunadamente, para o mal. Adotam hábitos, discursos, comportamentos e trejeitos alheios. Agem como se o porvir não pesasse, submersos na nuvem de auto-sabotagem, intocáveis, como se fosse dada a invulnerabilidade. Raríssimas vezes cessam para introspeção, ao cabo da qual laboram no erro de conceber mudança nos demais ao redor. Não vislumbram que, nessa senda, laboram como tratores sobre seres, dizimando amizades em busca vã de paridade com aqueles que não o são.

Aqueles relegados devem conjecturar: sigo o mesmo curso e perpetuo o pretérito, ainda que agora insincero? Ou do ponto presente alvoreço nova jornada, desigual à precedente, recompensando a senda? Leitor dileto, deploravelmente careço das respostas. Não possuo mapa para tal itinerário; é risco que cada qual precisa abraçar ao adentrar nessa busca.

Minha solidariedade e compreensão se estendem a quantos vivenciaram ou vivenciam tal sorte. Sinceramente desejo que encontrem as respostas almejadas e que não cometam o lapso de relegar as memórias auspiciosas que ainda atinentes têm.