Espelhos Despedaçados

Espelhos Despedaçados

Durante a trajetória da minha existência, encontrei naqueles ao meu redor uma fonte de inspiração genuína. Seres que irradiavam afeto, sabedoria, resiliência e autoconfiança. Eles possuíam a coragem necessária para se expor e salvaguardar a mim e a outros que me cercavam. Sem sombra de dúvidas, esses indivíduos foram minha fortaleza e espelho. Eram guias confiáveis, mesmo que suas realizações profissionais não fossem notáveis. Admiravelmente, eles sabiam equilibrar as demandas da vida familiar, mesmo em tempos difíceis. Ainda hoje, guardo em minha memória lembranças enriquecedoras e referências marcantes dessas pessoas.

No entanto, como é peculiar na imprevisibilidade da vida, a habilidade desses seres em oferecer exemplos edificantes foi se esvaindo com o tempo. Até que, em um instante inesperado, um deles simplesmente tomou uma atitude que ninguém, absolutamente ninguém, poderia antever. Foi um choque avassalador para todos. Contudo, para mim... bem, eu nunca mais fui o mesmo. Como poderia? Como lidar com a pessoa que mais me inspirava, meu farol de vida, desmoronando diante dos meus olhos e eu incapaz de intervir? Minha mente retratava apenas uma imagem: eu aprisionado numa caixa de vidro transparente, testemunhando de todos os ângulos, clamando para que tudo isso passasse, chegasse ao fim, mas todas as súplicas eram em vão. Gritos, lágrimas e a suplica para que tudo voltasse ao normal... a partir desse momento, eu parei.

Meu verdadeiro eu desvaneceu, as pessoas que me conheciam desde o meu nascimento já não existiam mais. O que era e jamais será. A vida perdeu seu encanto, os fins de semana mais se assemelham a cenas de terror e apreensão do que a dias repletos de alegria e contentamento. As horas escapam sorrateiramente e os momentos que antes eram considerados os mais sublimes do mundo são agora vividos com uma ansiedade mental constante, ansiando pelo fim dessa tortura. As coisas mudam, seres desaparecem e a vida segue seu curso.

Hoje, tudo o que resta é este texto, as lágrimas silenciosas que mancham meu travesseiro e a tristeza entranhada em meu coração. Meus sentimentos estão enclausurados no âmago do meu ser, e a confiança, há muito tempo distante, tornou-se mais uma narrativa fantasiosa do que uma emoção que já me pertenceu.

A cada passo que dou, sou um artista da dissimulação, pintando sorrisos no rosto e espalhando alegria superficial ao meu redor. Porque, afinal, ninguém está realmente interessado no que carrego em meu interior, nas batalhas silenciosas que travo ou nas emoções que me consomem em cada circunstância. Sou apenas um rosto sorridente, uma figura alegre que traz conforto aos outros.

Porque, veja bem, se estou sempre sorrindo e fazendo piadas, então devo ser feliz, certo? Se não revelo o peso que carrego, minha dor é apenas uma frescura insignificante, um incômodo efêmero que pode ser facilmente descartado. Mas se ousar expressar meus sentimentos, sou prontamente rotulado como problemático, como alguém "complicado" demais para se lidar.

Portanto, opto pela máscara do contentamento, escondendo minhas angústias por trás de um riso ensaiado. Dentro de mim, uma escuridão imperceptível se agita, enquanto lá fora sou apenas um farol de positividade. Afinal, quem realmente se importa com a verdade que se esconde por trás do meu sorriso? Quem ousaria olhar além da superfície e perceber as rachaduras em minha alma?

Assim, sigo adiante, interpretando o papel que a sociedade espera de mim. Afinal, é mais fácil acreditar que sou uma pessoa feliz e despreocupada do que confrontar a complexidade dos meus verdadeiros sentimentos. Através da minha atuação cotidiana, busco acalmar as inquietações dos outros e evitar que a incerteza e a escuridão que me habitam sejam reveladas.

E assim, nesse palco da vida, sou apenas uma ilusão, um sorriso falso que esconde a verdadeira dor. E aqueles que me rodeiam, em sua ingenuidade, continuam acreditando que conhecem a essência por trás do personagem que represento. Porque, afinal, quem realmente se importa em mergulhar nas profundezas da minha existência, em entender a complexidade do meu ser?

Então, sigo adiante, carregando minha carga invisível, enquanto os outros se apegam à superfície do que aparento ser. E no meio dessa encenação solitária, meu verdadeiro eu permanece enterrado, sufocado pelas expectativas e pelas ilusões que criei.